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28 de jun. de 2012

O que é a Divina Providência?


Em seu amor, o Senhor criou bem todas as coisas

Certamente, você já ouviu falar que Deus sustenta e conduz toda a criação, realizando Sua vontade por meio da Divina Providência; assim, para viver uma vida de santidade é necessário confiar inteiramente nela. Mas muitos ainda têm dúvidas sobre o que é e como viver dela.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: "Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente" (Sb 8,1), porque "tudo está nu e patente a seus olhos" (Hb 4,13), mesmo aquilo que "depende da futura ação livre das criaturas" (CIC 302).

Desta maneira, o Senhor criou o homem para a santidade e, por isso, Ele jamais o abandona; por isso o conduz, a cada instante, para uma perfeição última ainda a atingir pelos caminhos que só Ele conhece.

Por outro lado, mesmo conduzindo tudo, Ele jamais retira a liberdade do homem, uma vez que este não é marionete. "Em Deus, vivemos, movemos e existimos" (At 17,28). Ele está presente em todas as situações, mesmo nas ocorrências dolorosas e nos acontecimentos aparentemente sem sentido. Ele também escreve direito pelas linhas tortas da nossa vida; o que nos tira e o que nos dá, tudo constitui ocasiões e sinais da Sua vontade, afirma o Youcat (49).

Reconhecer, confiar nesta dependência total do Senhor é fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança (Sb 11,24-26). O próprio Jesus recomendou o abandono total à providência celeste, sendo Ele o próprio a testemunhar, com Sua vida, que o Senhor cuida de todas as coisas: "Não vos inquieteis, dizendo: 'Que havemos de comer?' 'Que havemos de beber?' [...] Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo" (Mt 6,31-33).

Se Deus conduz todas as coisas, surge então o questionamento: Por que Ele não evita o mal?

Afirma o Catecismo da Igreja Católica que: "A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória. É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível. Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal" (CIC 309).

Santo Tomás de Aquino afirmava que: “Deus só permite o mal para fazer surgir dele algo melhor”. Ora, o mal no mundo é um mistério sombrio e doloroso, por isso tão incompreensível; mas temos a certeza de que o Senhor é cem por cento bom, Ele nunca é o autor de algo mau. Ele criou o mundo bom, embora ainda não aperfeiçoado.

Olhando para a história, é possível descobrir que o Senhor, em sua providência, tirou um bem das consequências de um mal (mesmo moral) causado pelas criaturas: "Não, não fostes vós – diz José a seus irmãos – que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. [...] Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus aproveitou-o para o bem [...] e um povo numeroso foi salvo" (Gn, 45,8; 50,20)

"Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção. Mas nem por isso o mal se transforma em bem". (CIC 314)

O certo é que "Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8,28). O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade: Santa Catarina de Sena afirmou: "Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem e não com nenhum outro fim". São Tomás Morus, pouco antes do seu martírio, disse estas palavras: "Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom" (CIC 315).

Portanto, o homem é chamado a confiar inteiramente na divina providência, pois esta é o meio pelo qual Ele conduz, com sabedoria e amor, todas as criaturas para o seu último fim, que é a santidade, mesmo sabendo que, muitas vezes, os caminhos da sua providência são desconhecidos. A resposta para aquele que deseja viver uma vida na vontade do Senhor é o abandono, pois esta é a ordem de Deus: "Lançai sobre o Senhor toda a vossa inquietação, porque Ele vela por vós" (1 Pe 5, 7).

Ricardo Gaiotti - Comunidade Canção Nova
@ricardogaiotti

21 de jun. de 2012

Como conhecer Deus?


Será que há no homem uma religião natural?

"Diz o insensato em seu próprio coração: Não há Deus" (Sl 13,1). A Sagrada Escritura não chama de infiéis os que negam a existência do Senhor, mas de insensatos, ou seja, pessoas sem senso, que não raciocinam. Isso significa algo muito importante: o não reconhecimento da presença de Deus não é um problema de falta de fé, mas de raciocínio. Efetivamente, para reconhecer a existência d'Ele não é preciso ter fé, basta pensar direito, fazer uso correto da própria inteligência.

Na verdade, a própria fé, de certa forma, pressupõe esse conhecimento sobre Deus, o qual obtemos apenas com as luzes de nossa razão. Como nos referimos em nosso artigo anterior e conforme consta dos parágrafos 142 e 143 do Catecismo da Igreja Católica (CIC), "fé é a resposta do homem ao Deus que se revela". Ter fé é confiar na palavra de alguém e aceitá-la como verdadeira. A fé é divina quando esse Alguém em quem confiamos é o próprio Pai do céu. Ora, aceitar a Palavra revelada pelo Senhor pressupõe que reconhecemos, previamente, a existência de um Deus que pode se revelar. Ou seja, o conhecimento sobrenatural da revelação pressupõe uma compreensão natural do Senhor.

Como alcançamos esta ciência? Em primeiro lugar, a realidade divina é uma verdade que pertence ao bom senso da humanidade. Cícero, filósofo romano, dizia que "não há povo tão bruto, bárbaro ou selvagem que não tenha a ideia da existência de Deus, ainda que se engane sobre a Sua natureza". Este é um traço que, radicalmente, nos separa dos animais irracionais, pois, fora de nossa espécie, não há registro de nenhum traço de veneração religiosa. Em compensação, jamais se observou sociedade humana que não tivesse alguma ideia de religião ou de divindade. Entre os seres que vivem sobre a Terra, só o homem presta culto a Deus; e sempre onde se encontrou o homem, aí também se encontrou a religião.

O argumento é persuasivo, porém nada prova definitivamente. Ainda que toda a humanidade concordasse com a existência do Senhor, todos poderiam estar enganados. Entretanto, é possível, verdadeiramente, a partir das realidades à nossa volta, demonstrar a existência d'Ele com a mais absoluta certeza de que a razão humana é capaz.

Como nos ensina o apóstolo dos gentios na Carta aos Romanos: "O que se pode conhecer de Deus é-lhes manifesto, pois Deus lho manifestou. De fato, as coisas invisíveis d’Ele, depois da criação do mundo, compreendendo-se pelas coisas feitas, tornaram-se visíveis, e assim o seu poder eterno e a sua divindade» (Rm 1,19-20).

Efetivamente, a existência de Deus foi demonstrada pelo filósofo grego Aristóteles, que viveu no século IV antes de Cristo. Na Idade Média, a demonstração aristotélica foi desdobrada em cinco vias por Santo Tomás de Aquino e, até hoje, não foi refutada, porque, para tanto, seria preciso negar ou a própria existência do mundo ou os primeiros princípios do ser. Entretanto, tais provas são difíceis e reclamam, para a sua perfeita compreensão, um profundo conhecimento do conjunto da filosofia aristotélico-tomista.

Isso mostra a importância de se estudar a filosofia de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino. O decreto Optatam Totius, do Concílio Vaticano II, por exemplo, determina que, na formação sacerdotal, as disciplinas filosóficas sejam ensinadas segundo "um patrimônio filosófico perenemente válido" (n. 15), em que se inclui, essencialmente, a filosofia aristotélico-tomista. Trata-se de uma filosofia perene, que começa com os primeiros filósofos gregos, desenvolve-se com Sócrates e Platão, é sistematizada e aperfeiçoada por Aristóteles, recebe contribuições dos estóicos e é continuada por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, representando uma conquista definitiva da humanidade e um patrimônio intelectual de valor permanente, inclusive para os homens de hoje.

Essa filosofia perene nos proporciona os princípios que nos habilitam não somente a demonstrar com certeza a existência divina, mas também outras verdades fundamentais para a vida religiosa, como a imortalidade da alma e a existência de uma lei moral que define o certo e o errado no comportamento humano.

Tal a importância do estudo da filosofia, que o grande Papa Leão XIII publicou uma encíclica, a Aeterni Patris, apenas para estimular esses estudos, especialmente a respeito da filosofia de Santo Tomás. Neste documento, o Pontífice diz: "Sabe-se que entre os chefes das facções heréticas não faltaram os que confessaram publicamente que, uma vez afastada a doutrina de Tomás de Aquino, eles poderiam facilmente enfrentar e vencer todos os doutores católicos e aniquilar a Igreja. Sem dúvida, esperança vã, mas não vão testemunho" (n. 46).

Portanto, existe uma religião natural, que é constituída das verdades e deveres religiosos demonstrados à luz natural da razão humana pela reta filosofia. É por isso que a formação de um padre prevê o estudo da filosofia antes da teologia. A filosofia fornece aquele conhecimento natural de Deus que constitui o que os teólogos chamam de “os preâmbulos da fé”. O Catolicismo é uma religião revelada (sobrenatural) assentada sobre uma religião demonstrável (natural).

Rodrigo R. Pedroso

Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro


Ele assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus

“Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus seu Filho, nascido de uma mulher” (cf. Gal 4,4). Assim se cumpre a promessa de um Salvador, que Deus fez a Adão e Eva ao serem expulsos do Paraíso: “Porei inimizades entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gn 3,15). Este versículo do Gênesis é conhecido por "Proto-Evangelho", pois constitui o primeiro anúncio da Boa Nova da salvação. Tradicionalmente, tem-se interpretado que a mulher a que se refere é tanto Eva, em sentido imediato, como Maria em sentido pleno; e que a descendência da mulher refere-se tanto à humanidade como a Cristo.

Desde então, até o momento em que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), Deus foi preparando a humanidade para que pudesse acolher, frutuosamente, a seu Filho Unigênito. Deus escolheu para si o povo israelita, estabeleceu com ele uma aliança e o formou progressivamente, intervindo em sua história, manifestando-lhe Seus desígnios por meio dos patriarcas e dos profetas, santificando-o para si. Tudo isso, como preparação e figura daquela nova e perfeita aliança que havia de concluir-se em Cristo e daquela plena e definitiva revelação que devia ser efetuada pelo próprio Verbo encarnado.

Ainda que Deus tenha preparado a vinda do Salvador, principalmente mediante a eleição do povo de Israel, isto não significa que abandonasse os demais povos, os “gentios”, pois nunca deixou de dar testemunho de si mesmo (cfr. Atos 14,16-17). A Providência divina fez com que os gentios tivessem uma consciência mais ou menos explícita, da necessidade da salvação, e até nos últimos rincões da Terra se conservava o desejo de serem redimidos.

A Encarnação tem sua origem no amor de Deus pelos homens: "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco, em que Deus enviou ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por meio dEle” (1Jo 4,9). A Encarnação é a demonstração por excelência do amor do Pai para com os homens, já que nela é o próprio Senhor que se entrega aos homens, fazendo-se participante da natureza humana na unidade da pessoa.

Após a queda de Adão e Eva no Paraíso, a Encarnação tem uma finalidade salvadora e redentora, como professamos no Credo: “por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem”. Cristo afirmou de Si mesmo que o Filho do homem veio para buscar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 19; cf. Mt 18,11) e que “Deus não enviou seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3,17).

A Encarnação não só manifesta o infinito amor de Deus aos homens, Sua infinita misericórdia, Sua justiça, Seu poder, mas também a coerência do plano divino da salvação. A profunda sabedoria divina consiste na forma segundo o qual Deus decidiu salvar o homem, isto é, do modo como convém à natureza, que é precisamente mediante a Encarnação do Verbo.

Jesus Cristo, o Verbo encarnado, “não é um mito nem uma ideia abstrata qualquer. É um Homem que viveu em um contexto concreto e que morreu depois de ter levado Sua própria existência dentro da evolução da história. A investigação histórica sobre Ele é, pois, uma exigência da fé cristã” .

A existência de Jesus é um fato provado pela ciência histórica, sobretudo mediante a análise do Novo Testamento, cujo valor histórico está fora de dúvida. Há outros testemunhos antigos não cristãos, pagãos e judeus sobre a existência de Jesus. Precisamente por isto, não são aceitáveis as posições de quem contrapõe um Jesus histórico ao Jesus da fé e defendem a hipótese de que quase tudo o que o Novo Testamento diz acerca de Cristo seria uma interpretação de fé que fizeram os Seus discípulos, mas não Sua autêntica figura histórica, que ainda permaneceria oculta para nós.

Essas posturas, as quais encerram um forte preconceito contra o sobrenatural, não levam em conta que a investigação histórica contemporânea concorda em afirmar que a apresentação feita pelo Cristianismo primitivo de Jesus baseia-se em fatos autênticos sucedidos realmente.



José Antonio Riestra
http://www.opusdei.org.br

16 de jun. de 2012

As mudas do Reino


É dever dos cristãos espalhar boas sementes pelo mundo

Há pessoas com tamanho gosto pelas plantas que se dedicam a recolher, por onde passam, mudas e sementes, para que a vida dada por Deus, na magnífica e variada flora de nossa região, se multiplique por toda parte. Há gente que passa por nossas ruas com carrinhos repletos de madeira, papelão ou ferro velho, para transformar em trocados ou em salário. Os lixões da vida estão repletos de catadores, diante dos quais muitos podem até virar o rosto, mas se esconde ali uma dignidade desconcertante.

E quantos são os homens e mulheres, artistas e poetas, quais trovadores do dia ou da noite, que andam catando versos e compondo melodias feitas de rimas incríveis, carregadas do humor ou da angústia do cotidiano. E não são poucas as pessoas que recolhem imagens, para que dos pincéis dos pintores ou das máquinas fotográficas ou filmadoras passem aos corações a moldura da vida, com rostos e mais rostos.

A crônica da cidade poderia se enriquecer com tantas outras figuras provocantes ou curiosas, todas participantes do agitado malabarismo do viver, que recolhem pedaços de histórias e de coisas, para compor o grande concerto de nossa aventura humana.

Visto do alto, onde se encontra o Senhor, Aquele que está também bem perto de nós, dentro de nós e no meio de nós, o mundo fica até bonito. É que se trata de limpar os olhos para enxergar melhor, para superar o derrotismo dos pessimistas ou a ingenuidade dos que só enxergam a superfície. Há vida pulsando nas veias da humanidade e da terra.

Há um plano de amor com que tudo foi feito pelo Deus, que é amor. De fato, “assim diz o Senhor Deus: Eu mesmo pegarei da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um rebento e o plantarei sobre um alto e escarpado monte. Eu o plantarei no alto monte de Israel. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um majestoso cedro. Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de seus galhos as aves farão ninhos. E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abato a árvore alta e exalto a árvore baixa, faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, falei e farei” (Ez 17,22-24). Deus é "incorrigível" em Sua mania de fazer jardins e pomares! (cf. Gn 1 – 3).Assista também: "Santidade é fazer a vontade de Deus", com padre José Augusto
A força criadora do amor de Deus faz com que o bem se espalhe e se multiplique. É como “alguém que espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,26-34). Faz parte da vida cristã identificar os sinais da presença de Deus na história humana, olhar ao redor e perceber o bem que se faz, para entender as parábolas da vida que o Senhor continua contando. Em tais novas parábolas, os personagens somos nós mesmos, pois Deus nos chama a sermos sinais de Seu Reino.

Entretanto, com muita propriedade, vem à tona o problema do mal. Desde os primórdios, os seres humanos inventaram mil formas para estragar o jardim plantado por Deus. Até a isso se responde com a belíssima parábola do joio e do trigo (cf. Mt 13,24-43). “Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal” (Mt 13,40-41) Enquanto o mundo for mundo, haverá a misteriosa presença do mal. Identificá-lo dentro e fora de nós e oferecer soluções é tarefa permanente.

Até para denunciar o mal existente, o melhor remédio é espalhar o bem. Vale a máxima de São Francisco de Sales: "Com uma colherinha de mel se atraem mais moscas do que com um tonel de vinagre". E temos à disposição remédios preciosos: a pregação da conversão, a oração, os sacramentos e o cultivo do “amor mútuo, com todo o ardor, porque o amor cobre uma multidão de pecados” (1 Pd 4,8).

Como cristãos, auguramos que as sementes do bem se espalhem, cresçam e frutifiquem, para que a árvore do Reino de Deus abrigue, como aves do céu, gente de todas as raças e nações. Como nada podemos em nossa fraqueza, suplicamos o socorro da graça de Deus para que possamos querer e agir conforme Sua vontade, seguindo os Dez Mandamentos. Não faz mal sonhar alto com um mundo novo!

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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

Sagrado Coração de Jesus


Ótima maneira de mergulhar na miséricordia do Senhor

A Solenidade do Sagrado Coração é uma celebração de origem relativamente recente, embora a ideia seja muito antiga, pois está enraizada na Sagrada Escritura. A grande propagadora dessa devoção foi Santa Margarida Maria, que, entre os anos de 1673 e 1675, teve uma série de visões nas quais Cristo lhe pediu que trabalhasse para a instituição de uma festa em honra a Seu Sagrado Coração.

Dessa forma, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é a devoção a Cristo. No entanto, nossa devoção não deve permanecer no nível do sentimento. Devotio, palavra latina que deu origem à palavra "devoção", é muito mais forte do que seus equivalentes nas línguas atuais. No contexto religioso indica a determinada vontade de fazer a vontade de Deus, ou seja, esta devoção é feita por aceitar o convite de Cristo para tomar a nossa cruz e segui-Lo.

A devoção ao Coração de Jesus decorre da meditação dos textos biblícos, esta relação foi confirmada pelo Papa Pio XII na Encíclica Haurietis Aquas, sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Afirma o Sumo Pontífice que: “Com todo esse amor, terníssimo, indulgente e longânime, mesmo quando se indigna pelas repetidas infidelidades do povo de Israel, Deus nunca chega a repudiá-lo definitivamente; mostra-se, sim, veemente e sublime; mas, contudo, em substância isso não passa do prelúdio daquela inflamadíssima caridade que o Redentor prometido havia de mostrar a todos com o seu amantíssimo coração, e que ia ser o modelo do nosso amor e a pedra angular da Nova Aliança”.

Dentre as fundações bíblicas destacamos, do Antigo Testamento, a Aliança de Deus com o povo, narrada no livro de Deuteronômio: "Escuta, Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E estas palavras que hoje te ordeno estarão sobre o teu coração" (Dt 6,4-6).

No Novo Testamento, o Evangelho de São João traz dois trechos que são centrais no culto ao Sagrado Coração de Jesus: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba, quem crê em mim — conforme diz a Escritura: Do seu interior correrão rios de água viva” (Jo 7, 37-38).

“Chegando a Jesus viram que já estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19, 33-34).

Na tradição cristã, o sangue é interpretado como um símbolo do sacrifício e do mistério Eucarístico. A água simboliza o Espírito Santo, que flui de Cristo à Igreja. Este Coração é uma fonte inesgotável de vida e de bênção.

Outros Santos Padres também recomendaram essa devoção. Além da Haurietis Aquas, do Papa Pio XII, encontramos, na Carta Apostólica Investigabiles Divitais Christi, do Papa Paulo VI, a afirmação de que essa devoção é uma ótima maneira de honrar a Jesus, observando inclusive a estreita relação entre ela e o mistério Eucarístico. O saudoso Papa João Paulo II, em sua primeira encíclica, Redemptor Hominis, afirmou que: “A redenção do mundo — aquele tremendo mistério do amor em que a criação foi renovada é, na sua raiz mais profunda, a plenitude da justiça num Coração humano”, por diversas vezes ele associou o Coração de Cristo a cada coração humano.

Portanto, o coração é o símbolo que fala do interior e do espiritual. Desta forma, o Senhor ilumina o coração humano e o convida a compreender e mergulhar nas "insondáveis riquezas" que brotam de Seu Coração. Jesus nos atrai para Seu Coração e fala ao nosso coração, porque deseja comunicar todo o Seu amor, para que tenhamos um coração semelhante ao d'Ele.



Vicent Ryan
Pauline, Madrid-1987, p. 118-132

O que é a fé?


A fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples crença

Em artigo nosso anteriormente publicado, falamos do equívoco que é ver a religião como fenômeno exclusivamente sentimental e subjetivo, sem relevância intelectual e sem referência à realidade das coisas. Dizíamos que tal equívoco nasce de dois outros erros: (1) um que faz a religião depender somente da fé, como se não houvesse verdades religiosas que o homem pudesse conhecer à luz de sua razão natural; (2) outro que consiste numa falsa visão da fé, que é confundida com mera crença. Ora, como dissemos naquela oportunidade, esses dois erros são eliminados quando mostramos que: (1) existem verdades religiosas naturalmente acessíveis ao conhecimento humano; (2) a fé católica, como virtude teologal, é coisa diferente de uma simples crença.

E vamos começar desenvolvendo o segundo desses pontos: a fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples crença. É importante frisar isso, porque, hoje em dia, as pessoas parecem já não mais saber o que é fé, acham que ter fé é acreditar em qualquer coisa. Porém, como sublinhou o atual Papa Bento XVI, quando ainda era o Cardeal Ratzinger, responsável pela Congregação da Doutrina da Fé (órgão que assessora o Santo Padre na defesa da fé), na famosa declaração Dominus Iesus: «Deve-se manter firmemente a distinção entre a fé teologal e a crença nas outras religiões» (n. 7 do documento).

Precisamos, portanto, retomar o sentido da fé. Para isso, podemos recorrer ao significado primitivo e etimológico da palavra. Fé (do latim fides) significa a confiança que depositamos na palavra de alguém. Este sentido ainda está bem presente em expressões legais, como “boa-fé” ou “má-fé”. Um oficial de justiça, por exemplo, quando atesta algum acontecimento, escreve “certifico e dou fé”; com isso ele quer dizer que é verdade o que ele está atestando e que as pessoas podem confiar no que ele está falando. Dos documentos lavrados em cartório também se diz que têm “fé pública” – é mais uma aplicação do mesmo sentido.

Quando confiamos na palavra de um homem, temos o que se chama “fé humana”. A fé humana é um meio de conhecimento, grande parte dos conhecimentos que temos de história, geografia ou de ciências naturais chega a nós por meio da fé humana. São conhecimentos que não podemos verificar por nós mesmos; todavia, nós os aceitamos confiando na palavra dos que nos ensinaram. Por exemplo, só sabemos que a Independência do Brasil foi proclamada em 1822 porque confiamos nos documentos que nos relatam isso e acreditamos no magistério dos historiadores – nenhum de nós já havia nascido àquela época e poderia verificar tal fato por si mesmo.

Como afirmei acima, quando aceitamos como verdade o que nos diz determinado homem, digno de confiança, temos o que se chama fé humana. Porém, quando aceitamos como verdadeira a Palavra revelada de Deus, temos o que se chama “fé divina”. É por isso que o Catecismo da Igreja Católica, nos seus parágrafos 142 e 143, define a fé como «a resposta do homem ao Deus que se revela».

Ter fé, portanto, não é acreditar em qualquer coisa; ter fé é aceitar como verdadeira a Palavra revelada de Deus, é aderir voluntariamente às verdades que Deus comunicou à humanidade, sem as aumentar nem as diminuir.

Isso, por si só, já mostra o quão distante está a fé católica de uma simples crença. A fé é um conhecimento, mas uma simples crença não é conhecimento. Uma crença pode ser puro fruto da imaginação, da fantasia e da subjetividade do crente. No entanto, a fé está baseada no fato histórico e objetivo da Revelação. A fé é um conhecimento sobrenatural historicamente transmitido por Deus à humanidade. «Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho» (Hb 1,1-2).

O católico, portanto, não é um crente, mas um fiel, que guarda na inteligência e no coração o conhecimento sobrenatural transmitido aos homens por Deus. Este conhecimento sobrenatural em que consiste a fé está depositado nas duas fontes da Revelação divina, a Sagrada Escritura e a Tradição Apostólica, e nos é transmitido por intermédio do magistério da Igreja. Entretanto, existe um conhecimento natural de Deus que, de certo modo, consiste num preâmbulo da fé e do qual pretendemos falar, com a ajuda do Altíssimo, no próximo artigo.



Rodrigo R. Pedroso

11 de jun. de 2012

Condição humana


Como você tem feito suas escolhas?

A pessoa humana, experimentando seus próprios limites, ora faz opção pelo bem, ora pelo mal. Mas sempre lutando por sobreviver, tendo como pano de fundo a confirmação de sua existência, estabilidade e realização final. O importante é não ser enganado pelo mal que a cerca e se tornar uma pessoa infeliz.

Na descrição bíblica do paraíso, havia ali a árvore do bem e do mal. Diante dela, o homem e a mulher deveriam fazer sua opção e escolha de vida. Era um ato de obediência ou não, uma escolha que teria grandes consequências. Aí estava em jogo o destino de toda a humanidade e, também, até a perda do paraíso.

Nesse cenário bíblico encontramos inspirações profundas para nossas realizações de hoje. Às vezes descartamos a esperança diante de opções que matam a vida. Podemos até perder o sentido do novo paraíso, a vida em Deus. Isto acontece quando desconhecemos o sentido do sagrado e da dignidade da pessoa humana.

A força do mal leva consigo falsas promessas. É como o poder dominador, que faz parceria com quem age da mesma forma e não dá valor às iniciativas dos outros. Cai por terra a prática da fraternidade e a convivência entre os irmãos. As consequências de tudo isso é o endeusamento do individualismo, fato tão proclamado pela nova cultura.

A condição humana está ligada à liberdade e à capacidade de escolha. Tem como segurança a esperança, que deve sempre ser alimentada e concretizada em Jesus Cristo. Supõe firme convicção de fé na ressurreição e na vida eterna. A morada terrestre, que será destruída, transformar-se-á em uma morada eterna em Deus.

A vida é sempre marcada por um paraíso perdido, passageiro, e pelo mal que nos leva a perdê-lo. Isto é fruto da tendência que todos temos para o mal, para atos de injustiça e por atitudes muitas vezes desumanas. Assim ficamos perdidos na busca do bem e de uma condição humana que nos torna realizados. A dignidade é fonte de humanização e divinização.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba - MG

8 de jun. de 2012

A passagem de Maria para a Eternidade



Ao longo da história, tanto os teólogos quanto a piedade popular se dividiram na opinião se Maria morreu de fato ou se apenas adormeceu e foi levada ao céu em corpo e alma pelos anjos. A basílica em sua honra em Jerusalém chama-se exatamente "Dormitio Mariæ" e um dos documentos mais antigos que temos sobre os últimos dias de Maria também leva esse título. O dogma da Assunção de Maria, proclamado em 1950, não dirimiu a questão, afirmando que "a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste". O corpo de Maria, elevado ao céu, podia já ser um corpo glorificado, como o de Jesus após a ressurreição.

Tanto os que falam em morte natural de Maria quanto os que falam em sono profundo da Mãe de Deus têm seus bons argumentos. Estes últimos argumentam com sua conceição imaculada. Se a morte é conseqüência do pecado, Maria, sem pecado e sem sombra de pecado, não podia morrer. Lembram também que a imortalidade é uma característica da Igreja. Ora, sendo Maria o protótipo da Igreja, bem podia Deus realizar nela o que fará com a Igreja no final dos tempos, ou seja, ressuscitar os que morreram e "arrebatar com eles para as nuvens, ao encontro do Senhor nos ares os que ainda estão vivos" (1Ts 4,16-17).

Os que afirmam sua morte natural lembram que também Jesus era imaculado e santíssimo e passou pela morte, destino de todos os filhos de Adão, porta e parto necessários para a imortalidade. Maria é o modelo de todos os resgatados pelo Cristo através de sua morte e ressurreição. Também Maria, que se uniu a Ele no Calvário, ter-se-á configurado a ele na morte e na ressurreição. Assim como ela, sem pecado, passou por dores, angústias, desconfortos, perseguição, também terá passado pela prova maior: a morte corporal. Sem que com isso se afirme que seu corpo sofreu a decomposição.

As duas tradições são antiqüíssimas. Em nossos dias prevalece a tese de que Maria passou pela morte à imitação de Jesus. Mas é ainda e continuará a ser uma questão em aberto. Também não temos certeza de onde e quando Maria encerrou sua passagem terrena. Sabe-se que, na dispersão dos Apóstolos, Maria acompanhou João, como recomendara Jesus na Cruz (Jo 19,16-27). O Apóstolo João teria migrado para Éfeso, hoje sudoeste da Turquia, uns 600 km ao sul de Istambul. Maria teria findado seus dias em Éfeso. Esta tradição tomou corpo a partir do século XVIII com as visões da camponesa alemã Ana Catharina Emmerich (1774-1824) que, em sonho ou numa revelação, "viu" no alto da montanha popularmente denominada "Colina do Rouxinol", distante 7 km da antiga cidade portuária de Éfeso, a capela Meryem Ana Evi (Casa da Mãe de Deus), que seria a casa em que Maria teria terminado seus dias. Catharina viajou para lá, encontrou tudo como "vira" em sonho e começou a restaurar a antiga capela-casa de Maria, que até hoje os peregrinos podem visitar. Mães turcas, católicas e muçulmanas visitam continuamente aquele santuário, para terem um bom parto e sorte na educação dos filhos. No entanto, não há documentos históricos que favoreçam essa tradição e as escavações arqueológicas mostraram que a capela é certamente posterior ao século VI.

Uma outra tradição faz Maria terminar sua jornada terrena em Jerusalém, no Monte Sion e ser sepultada no lugar onde se encontra hoje a Basílica da "Dormição de Nossa Senhora", na região do Vale do Cedron, local tradicional de sepulturas. Os estudos arqueológicos e outros indícios fazem remontar o túmulo aos tempos romanos, ou seja, ao primeiro século da nossa era. Além disso, foram encontradas grafites, escritas pelos primeiros cristãos, que iam honrar o local do túmulo de Maria. Foram encontradas também algumas sepulturas judeu-cristãs, que ladeiam a câmara mais interna. Temos ainda a tradição oral de dois mil anos: os cristãos sempre foram lá venerar o túmulo da Mãe de Deus. E temos, além disso, alguns relatórios de peregrinos (famoso é o de Etérea), que por lá passavam e registravam suas impressões sobre a visita e a liturgia celebrada no local. Maria teria voltado de Éfeso para Jerusalém, onde moravam seus parentes, quando o Apóstolo João retornou para participar do primeiro Concílio Ecumênico da Igreja (At 15,6-29).

Na década de 60, quase ao mesmo tempo em que o franciscano Frei Bellarmino Bagatti fazia as escavações científicas junto ao túmulo de Maria, foi descoberto, na biblioteca do Louvre, em Paris, um documento em grego que possibilitou chegar a outros documentos, sobretudo a três, muito próximos entre si tanto na informação quanto no estilo. São eles: De Transitu Mariæ (em língua etíope), Dormitio Mariæ (em grego) e Transitus Mariæ (em latim). Estes textos devem ser datados do final do segundo século até começos do século quarto. Os três textos concordam em que Maria tenha terminado seus dias em Jerusalém.

A última referência bíblica a respeito de Maria a temos nos Atos, ainda quando os Apóstolos estavam no Cenáculo, depois da Ascensão de Jesus: "Todos permaneciam unânimes na oração com algumas mulheres, Maria, Mãe de Jesus, e seus irmãos" (At 1,14). Mas até o século VIII o texto grego "Dormitio Mariæ" encontrava-se no final da bíblia, depois do livro do Apocalipse. Hoje esse texto é considerado apócrifo, isto é, não pertencente ao conjunto dos livros da Sagrada Escritura, portanto, não revelado. Mas de todo respeito. Podia-se perguntar por que a Igreja não aceitou esse livro como revelado. Porque seu estilo é todo diferente e, no IV século, quando se fixou a canonicidade dos livros da Escritura, esse livro tinha muitos acréscimos heréticos e tendenciosos contra a divindade de Jesus, contra a maternidade divina de Maria, contra a Santíssima Trindade, e já não se sabia mais qual era o texto original. O texto descoberto agora é anterior a esses acréscimos e, por isso, merece algum crédito e, diria, alguma veneração.

Segundo este texto e segundo o texto intitulado "Transitus Mariæ", teríamos os seguintes passos: Maria recebe o anúncio de sua morte e garantia de amparo no momento da passagem; os Apóstolos se reúnem milagrosamente em torno de seu leito; Maria morre à semelhança de todos os seres humanos; durante o funeral, os judeus promovem uma manifestação hostil; depois do sepultamento, segue-se a ressurreição, sendo levada ao céu. Não podemos esquecer que não estamos num terreno de fé. Mas de piedosa crença popular. Na verdade, os últimos dias de Maria e sua passagem para a eternidade estão envoltos num véu de mistério que dificilmente a história ou a teologia conseguirão desvendar.

Que idade teria Nossa Senhora quando terminou seus dias na terra? Há um texto antigo que diz: "Dois anos depois de Cristo ter vencido a morte e subido ao céu, Maria começou a chorar no refúgio de seu quarto", ou seja, Maria passou a viver seus últimos dias. O texto passa a contar esses últimos dias, inclusive sua assunção ao céu. Se Maria concebeu Jesus aos 14 anos, deu à luz aos 15 (idade normal naquele tempo na Ásia Menor para casar) e Jesus morreu em torno dos 33 anos, Maria teria 50 anos ao morrer. Sabe-se que era a idade média de vida das mulheres naquele tempo e naquela região.

Há uma tradição, que vem dos primeiros tempos da Igreja, que conta que, chegado o momento do trânsito de Maria, Jesus teria vindo buscá-la, acompanhado dos Arcanjos Miguel e Gabriel. O Arcanjo Miguel foi o anjo vencedor de Lúcifer no paraíso terrestre (Ap 12,7-9) e o vencedor do dragão de sete cabeças, que quis devorar o filho da mulher revestida de sol (Ap 12,3-5). No passamento de Maria, hora mais de triunfo e vitória do que de morte, retorna, na piedade popular, o grande Arcanjo, como que para re-arrumar o paraíso perdido e introduzir nele, agora celestial, a humanidade inteira, representada em Maria Imaculada, virgem, esposa e mãe, Mãe de Deus. Retorna Miguel, o protetor da Igreja contra Satanás, para acompanhar na entrada da glória aquela que é o protótipo da comunidade cristã redimida e santificada.

Retorna também, na piedosa crença popular, com o Cristo glorioso, o Arcanjo Gabriel, o embaixador de Deus na Anunciação (Lc 1,26), a testemunha da escolha da jovem Maria de Nazaré como Mãe do Filho de Deus, o Messias Salvador. O Arcanjo, presente no início da história da salvação trazida pelo Cristo e na qual Maria se envolvera cem por cento, retorna no momento em que ela termina sua missão e seus dias na terra, entra gloriosa no seio da Trindade para ser, no tempo e na eternidade, a Mãe da Igreja, a terníssima Rainha do Céu e da Terra.

Maria esteve associada a Jesus a vida inteira (de fato, os teólogos a chamam "Sócia de Cristo"). Associada no corpo, fazendo uma unidade com ele. Associada na missão redentora a ponto de ser chamada "Mãe da Redenção". Associada na morte e associada por toda a eternidade na glória. Passando pela morte, Maria tornou-se para a humanidade a "feliz porta do céu, para sempre aberta".

Por Frei Clarêncio Neotti, O.F.M

Jesus está presente na Eucaristia. Mas como?


Jesus está presente na Eucaristia. Mas como?
Perguntaram as crianças ao Papa

No dia 15 de outubro de 2005, o Santo Padre Bento XVI encontrou-se com diversas crianças que estavam se preparando para receber pela primeira vez a Eucaristia. Nesse bate-papo com os pequenos, o Pontífice deixou ensinamentos precisos sobre este tão grande mistério.

O jovem André perguntou ao Papa: A minha catequista, ao preparar-me para o dia da minha Primeira Comunhão, disse-me que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!

Bento XVI respondeu: Sim, não o vemos, mas existem tantas coisas que não vemos e que existem e são essenciais. Por exemplo, não vemos a nossa razão, contudo temos a razão. Não vemos a nossa inteligência e temo-la. Não vemos, numa palavra, a nossa alma e todavia ela existe e vemos os seus efeitos, pois podemos falar, pensar, decidir, etc... Assim também não vemos, por exemplo, a corrente eléctrica, mas sabemos que ela existe, vemos este microfone como funciona; vemos as luzes. Numa palavra, precisamente, as coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos ver, sentir os efeitos. A eletricidade, a corrente não as vemos, mas a luz sim. E assim por diante. Desse modo, também o Senhor ressuscitado não o vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde está Jesus, os homens mudam, tornam-se melhores. Cria-se uma maior capacidade de paz, de reconciliação, etc... Portanto, não vemos o próprio Senhor, mas vemos os efeitos: assim podemos entender que Jesus está presente. Como disse, precisamente as coisas invisíveis são as mais profundas e importantes. Vamos, então, ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem.

O Papa bento XVI, em breves palavras, afirmou que a presença de Jesus é real na Eucaristia, independentemente se esta não seja “perceptível” aos olhos humanos, porém, este fato não afasta a realidade de que Cristo está presente na Eucaristia.

A pequena Anna perguntou: Caro Papa, poderias explicar-nos o que Jesus queria dizer quando disse ao povo que o seguia: "Eu sou o pão da vida"?

O Pontífice respondeu que: Deveríamos, esclarecer o que é o pão, pois hoje nós temos uma cozinha requintada e rica de diversíssimos pratos, mas nas situações mais simples o pão é o fundamento da nutrição e se Jesus se chama o pão da vida, o pão é, digamos, a sigla, uma abreviação para todo o nutrimento. E como temos necessidade de nos nutrir corporalmente para viver, assim como o espírito, a alma em nós, a vontade, tem necessidade de se nutrir. Nós, como pessoas humanas, não temos somente um corpo, mas também uma alma; somos seres pensantes com uma vontade, uma inteligência, e devemos nutrir também o espírito, a alma, para que possa amadurecer, para que possa alcançar realmente a sua plenitude. E, por conseguinte, se Jesus diz 'eu sou o pão da vida', quer dizer que Jesus próprio é este nutrimento da nossa alma, do homem interior do qual temos necessidade, porque também a alma deve nutrir-se. E não bastam as coisas técnicas, embora sejam muito importantes. Temos necessidade precisamente desta amizade de Deus, que nos ajuda a tomar decisões justas. Temos necessidade de amadurecer humanamente. Por outras palavras, Jesus nutre-nos a fim de que nos tornemos realmente pessoas maduras e a nossa vida se torne boa.

Por fim, o jovem Adriano perguntou ao Sumo Pontífice: Santo Padre, disseram-nos que hoje faremos a Adoração Eucarística. O que é? Como se faz? Poderias explicar-nos isso?

Bento XVI afirmou: A adoração é reconhecer que Jesus é meu Senhor, que Jesus me mostra o caminho a tomar, me faz entender que vivo bem somente se conheço a estrada indicada por Ele, somente se sigo a via que Ele me mostra. Portanto, adorar é dizer: "Jesus, eu sou teu e sigo-te na minha vida, nunca gostaria de perder esta amizade, esta comunhão contigo". Poderia também dizer que a adoração, na sua essência, é um abraço com Jesus, no qual eu digo: "Eu sou teu e peço-te que estejas também tu sempre comigo".

Com essas palavras do Papa Bento XVI dirigidas às pequenas crianças na Alemanha, aprendemos que Jesus está presente na Eucaristia, mesmo que não O vejamos, pois Sua presença está além dos nossos sentidos. Aprendemos que Ele, o Pão da Vida, deseja nos alimentar, para que, em meio ao mundo - faminto de Deus –, possamos caminhar fortemente rumo à vontade d'Ele. Para isso, basta-nos apenas reconhecer Sua presença majestosa e nos prostrarmos em adoração, oferecendo a Ele, a partir da nosso testemunho de vida, uma resposta de amor, a Ele que quer ficar conosco até o fim dos tempos.



Ricardo Gaiotti
@Ricardogaiotti - Comunidade Canção Nova

5 de jun. de 2012

Significado da Festa de Corpus Christi, celebrada nesta Quinta


Nesta quinta-feira, 07, a Igreja Católica, em todo o mundo, comemora o dia de Corpus Christi. Nome que vem do latim e significa “Corpo de Cristo”.

A festa de Corpus Christi tem por objetivo celebrar solenemente o mistério da Eucaristia - o Sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo.

Acontece sempre em uma quinta-feira, em alusão à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição deste sacramento. Durante a última ceia de Jesus com seus apóstolos, Ele mandou que celebrassem Sua lembrança comendo o pão e bebendo o vinho que se transformariam em seu Corpo e Sangue.

"O que come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e, eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. O que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. O que come deste pão viverá eternamente" (Jo 6, 55 - 59).

Através da Eucaristia, Jesus nos mostra que está presente ao nosso lado, e se faz alimento para nos dar força para continuar. Jesus nos comunica seu amor e se entrega por nós.

Origem da Celebração

A celebração teve origem em 1243, em Liège, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana de Cornion teria tido visões de Cristo demonstrando-lhe desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.

Em 1264, o Papa Urbano IV através da Bula Papal "Trasnsiturus de hoc mundo", estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a São Tomás de Aquino que preparasse as leituras e textos litúrgicos que, até hoje, são usados durante a celebração. Compôs o hino “Lauda Sion Salvatorem” (Louva, ó Sião, o Salvador), ainda hoje usado e cantado nas liturgias do dia pelos mais de 400 mil sacerdotes nos cinco continentes.

A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. Foi na época barroca, contudo, que ela se tornou um grande cortejo de ação de graças.

No Brasil

No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961, quando uma pequena procissão saiu da Igreja de madeira de Santo Antônio e seguiu até a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais.

A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.

Durante a Missa o celebrante consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra, apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.

Eucaristia


Isto é o meu corpo que é entregue por vós

A Eucaristia é o último dos sacramentos da iniciação cristã, o último dos sacramentos que nos inserem na vida do Cristo morto e ressuscitado, fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência – o Santíssimo Sacramento!

Como falar deste sacramento é muito complexo, dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vamos seguir o esquema do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. Vamos iniciar precisamente citando Catecismo: O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da cruz, e para confiar, assim, à Igreja, sua amada esposa, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura” (CIC 1323).

Estas palavras resumem de modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor, para perpetuar no decorrer dos séculos, até que ele venha, o sacrifício da cruz! Então, a Eucaristia é a Missa!

Mas, que significa “missa”? Onde, nas Escrituras Sagradas, se fala nela?

No decorrer da história este sacramento teve vários nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão rico. Primeiramente chamou-se “Eucaristia”, palavra grega que significa, “ação de graças”. O termo aparece muitas vezes o Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes Jesus pronunciou nas suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu graças (= eucaristizou), partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: “Isto é o meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s).

Na religião dos judeus, a bênção de ação de graças era proclamação das obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava graças pelas grandes obras do Senhor em seu favor. Por isso, os cristãos, cumprindo a ordem do Senhor Jesus, celebram a Ação de Graças a Deus pela sua grande obra: ter entregado o seu Filho desde a encarnação até a consumação na cruz, tê-lo ressuscitado dos mortos e o feito assentar-se à sua direita na glória. Assim, celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez pelo seu santo Filho Jesus.

Outro nome dado à Eucaristia, já no novo Testamento, foi “Ceia do Senhor” (cf. 1Cor 11,20), porque este sacramento é a celebração daquela ceia que o Senhor comeu com os seus discípulos na véspera da Páscoa. Por um lado, aquela ceia era já a celebração ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no dia seguinte: ele se entregaria totalmente na cruz, iria nos dar seu corpo e seu sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será entregue na cruz! Bebei: isto é o meu sangue que será derramado por vossa causa!” Por outro lado, esta ceia sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava a ceia das núpcias do Cordeiro, núpcias de Cristo ressuscitado com sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste:

“Felizes aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap 19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição, mas também já antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a ceia do Banquete celeste, quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento eterno para sua Esposa, a Igreja. Em outras palavras: é uma ceia que começa na terra e durará no céu, por toda a eternidade!

Mais um nome para este sacramento santíssimo: “Fração do Pão”. É um nome antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo nos Atos dos Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico da ceia judaica, foi muitas vezes repetido por Jesus quando abençoava e distribuía o pão (cf. Mt 14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na Última Ceia, quando ele partiu o pão. Através desse mesmo gesto, os discípulos reconheceram o Senhor ressuscitado: eles o reconheceram ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35).

Por tudo isso, os primeiros cristãos usavam a expressão “fração do pão” para designar suas reuniões nas quais, na ceia, partiam o pão como Jesus e em memória de Jesus. Deste modo, os primeiros cristãos queriam revelar a consciência que tinham que todo aquele que come o único pão partido, pão da Eucaristia, que é o próprio Senhor ressuscitado, entre em comunhão com ele e forma com ele um só corpo, que é a Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).

Um outro nome, que era caro aos santos doutores da Igreja Antiga, sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”, que significa “assembleia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é para ser celebrada pela Comunidade eclesial presidida pelo ministro ordenado. Onde a Comunidade se reúne para a Eucaristia, aí está a Igreja, povo de Deus reunido no único Espírito Santo, para oferecer o único sacrifício do Filho Jesus para a glória do Pai e salvação do mundo inteiro.

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Dom Henrique Soares da Costa
http://www.domhenrique.com.br

Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Titular de Acúfica e Auxiliar de Aracaju, Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Amplo conhecimento na área de Teologia Dogmática, vasta experiência no magistério em diversos cursos, retiros e seminários.

3 de jun. de 2012

Seja feita a Tua vontade


Assim na terra como no céu

Com muita frequência, nós nos deparamos com os resultados de pesquisas destinadas a compor estatísticas que avaliam as tendências de nosso tempo nas diversas áreas da vida e da atividade humana. Trata-se de uma atividade inteligente, com metodologia precisa, cada vez mais apurada. Durante a semana que passou, já estavam à disposição levantamentos a respeito do que os eleitores levarão em conta nas próximas eleições municipais. Os comerciantes estão sempre atentos às tendências de mercado, os meios de comunicação conferem sua audiência, e daí por diante. Também as estatísticas religiosas nos interessam. Queremos saber com quem estamos tratando, como as pessoas recebem nossas mensagens, o efeito prático de nossa pregação e daí por diante. É que todos querem saber em que chão estão pisando.

Há alguns dias, veio-me um desejo diferente: o de tornar-me, como um texto lido há alguns anos, um contador de estrelas, olhando para o alto ao invés de olhar apenas para o chão, sonhar com o Céu e não apenas constatar a realidade que nos circunda. E redescobri a oração do Pai-Nosso, tão antiga quanto nova e revolucionária. Para rezá-lo, veio-me de forma espontânea o sinal da cruz. Antes de "Pai nosso" eu disse: "Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Vi que traçava, junto com as palavras, a cruz de Cristo sobre mim. Pareceu-me ver o universo aberto de forma diferente, com uma haste voltada para o alto, para o infinito. A outra abraçava o mundo. O contador de estrelas começou a sonhar, mas com os pés no chão!

Vi que existe no alto um modelo para caminhar na terra. De fato, há um “plano” pensado desde toda a eternidade, há um sonho de Deus para a humanidade. Seu nome é santificado porque as pessoas são chamadas a viver voltadas para fora de si, abertas para amar e não dobradas sobre os próprios interesses. Como sou livre, incomodou-me um pouco pensar que, no desenho do projeto de Deus, está escrito que é para fazer a Sua vontade, até que entendi que, numa reunião de amor, cuja duração se estende por toda a eternidade, a família de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tramaram a estratégia da felicidade. Pareceu-me ver, olhando para as estrelas iluminadas no horizonte da fé, que é mesmo melhor fazer o que agrada a Deus, pois Ele é infinitamente mais inteligente do que todas as mentes humanas.

E foi então possível rezar de novo “venha a nós o vosso Reino”, constatando que é melhor implantar o Reino que precede e pode iluminar todos os reinos do mundo. Se eu tivesse em mãos todas as constituições de todos os países, e a elas ajuntasse a avalanche de leis que os homens e mulheres elaboram a cada dia, no afã de encontrar saídas para os problemas de nosso tempo, descobriria nelas os rastros daquele “plano”, porque sei que estão plantadas por aí muitas sementes do Verbo de Deus. É que acredito na ação misteriosa e verdadeira do Espírito Santo, que planta o bem onde nós menos esperamos.

Nas estrelas do Céu de Deus, vi que estava escrita a lei da providência. Pão do Céu e Pão da terra, pão compartilhado e dividido. Na oração, o sonho de que todos acolham o alimento do Céu e aprendam a lei divina da liberalidade, para que não haja fome nesta terra. Foi bom constatar que a natureza que Deus nos deu foi pensada com inteligência. Não faltam recursos nem comida, mas falta partilha! Quem se volta para o alto descobre a receita da despensa e da cozinha de Deus!

O Céu de Deus, a casa da Santíssima Trindade, é amor eterno. Quando desceu a terra, este amor assumiu a face da misericórdia. Que ousadia e que risco corri ao dizer “perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Viramos o jogo? O Céu e o Pai do Céu se submetem à nossa capacidade de perdoar? É que o plano de Deus nos introduziu num verdadeiro jogo de amor. Numa nova “escada de Jacó” (Cf. Gn 28,12 e Jo 1,51), o Céu e terra partilham seus dons, ainda que o Céu seja sempre o vencedor, pois a vitória que vence o mundo é a fé!

Para chegar a tais alturas, aquele que nos livra do mal nos liberte também da tentação de olhar somente para baixo, nivelando o mundo ao rodapé das constatações frias. Deus tem a palavra e Ele é mais inteligente do que minha pobre percepção da vida. Olhando para Ele, que é família e não solidão, sonhei com o mundo “passado a limpo”, como foi pensado para a felicidade de todas as criaturas de todos os tempos.

Sonhei tanto que rezei assim: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”. E disse “Amém”. E sonhei de novo toda a humanidade vivendo o Céu, na terra e na eternidade!

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA

Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

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REFLITA

Ter uma vida positiva é ter consciência que o universo precisa de você; é lutar pelos SONHOS de maneira determinada; é crescer sem precisar diminuir ninguém; é ter a verdade como um principio vital; é usar o poder da ousadia construtiva; é saber agradecer e perdoar, fraterna e totalmente; é priorizar a família; é viver cada dia de uma vez, sendo alegre no presente e otimista no futuro; é respeitar o próprio corpo; é se preocupar com os mais carentes; é preservar a natureza; é não se abater nos momentos de dor; é jamais perder a esperança; é ter auto estima; é ser rico em humildade; é sempre fazer a sua parte...Pois quando você faz a sua parte tenha certeza de que Deus fará a parte dele.

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